Existe um tempo apropriado para todo propósito
(Ec.3). Não podemos antecipar ou atrasar, mas precisamos de uma direção de Deus
e sabedoria para discernir a ocasião propícia.
Canaã, embora tenha sido prometida, precisava
ser conquistada. Assim acontece com muitas promessas de Deus que envolvem o
esforço humano em sua concretização.
Ali chegando, nas imediações de Cades-Barnéia,
Moisés escolheu doze homens, um de cada tribo, para entrarem em Canaã numa
missão de reconhecimento (Nm.13).
Aqueles homens eram a elite de Israel, doze
príncipes, líderes das tribos, pessoas especiais. Sua convocação foi uma grande
honra. Todos aceitaram e atenderam ao chamado. Naquele momento, todos os espias
pareciam iguais, podendo ser considerados como exemplos de coragem. Entretanto,
passariam por um teste, como acontece a todo servo de Deus em todos os tempos.
O teste haveria de revelar o caráter de cada um.
Moisés colocou diante deles um desafio: entrar
na terra, observá-la e sair, trazendo algumas amostras do seu fruto. Todos os
que são chamados e escolhidos por Deus encontrarão desafios em seu caminho.
Estes não vêm para nos destruir, mas para nos fazer crescer. Desafios são,
quase sempre, oportunidades, degraus para alcançarmos novos patamares na vida.
Aqueles doze homens estavam diante de uma grande chance. Moisés não poderia
espiar a terra sozinho. Surgiu então a oportunidade para que os novos líderes
pudessem despontar. Daquele grupo sairia o sucessor de Moisés.
Não devemos fugir dos desafios que podem nos
fazer avançar rumo ao propósito que Deus estabeleceu para nós, mas provocações
inúteis ou contrárias devem ser rejeitadas. As tentações também podem vir em
forma de desafio, como aquelas que Jesus enfrentou (Mt.4), mas ele não precisava
provar nada para o inimigo. O desafio que Cristo aceitaria seria a cruz.
Não devemos orar pedindo que Deus evite ou
elimine todos os problemas das nossas vidas. O que precisamos pedir é sabedoria
para enfrentar e vencer as adversidades. Se encontramos grandes problemas em
nosso caminho, eles serão oportunidades para grandes realizações e até
milagres. Golias desafiou o exército de Israel. Davi aceitou e venceu o
desafio. Aquele episódio foi um importante degrau para sua ascensão ao trono.
Quem foge dos estudos, do trabalho, das
dificuldades e dos problemas acaba passando para outros as chances de êxito e
crescimento. Não devemos criar problemas, mas enfrentar os que surgem diante de
nós.
Os doze espias obedeceram a Moisés e cumpriram a
missão, mas aquele era apenas o início de um longo processo. O próximo desafio
seria muito maior, mas nem todos estavam dispostos a aceitá-lo.
Depois de quarenta dias, os emissários voltaram
com um relatório que pode ser assim resumido: "Em Canaã, tudo é muito
grande, mas nós somos muito pequenos". Descobriram que a terra era
habitada por gigantes, entre os quais estavam os terríveis enaquins, filhos de
Enaque. Os frutos também eram gigantescos. Trouxeram um cacho de uvas que
precisava de dois homens para carregá-lo, além de alguns figos e romãs.
Todos viram o mesmo cenário, mas os observadores
dividiram-se em dois grupos: dez incrédulos e dois crentes. Dez espias disseram
que não poderiam conquistar a terra, porque seus moradores tinham grande
estatura. Dois espias, Josué e Calebe, declararam que poderiam conquistar com a
ajuda de Deus.
Os incrédulos estavam firmados em sua visão
física. O que viram foi determinante na condução de suas decisões. Os outros
dois estavam firmados na fé em Deus e na promessa. Acontecia ali o conflito
entre ver e crer.
O relatório pessimista era baseado na razão e na
lógica humana. O relatório da fé estava fundamentado na palavra de Deus.
Aqueles homens eram príncipes, mas viam-se como
gafanhotos (Nm.13.33). Seria humildade? Não. Era um caso de auto-depreciação em
virtude da incredulidade. Aí está o problema da auto-imagem negativa, que pode
anular o potencial do indivíduo e do povo. Entretanto, a fé e a sabedoria podem
superar a incapacidade humana. Quem pode deter uma nuvem de gafanhotos, quando
vem sobre a lavoura? O fato de serem numerosos e unidos torna-os poderosos.
Os filhos de Enaque não poderiam resistir aos
filhos de Deus, mas aqueles dez espias não pensavam assim. A incredulidade
destrói muitas qualidades. Eles não se lembraram que sobre os cananeus estava a
maldição de Cão, enquanto sobre os israelitas estava a bênção de Sem, e de
Abraão, Isaque e Jacó.
A maioria nem sempre está certa, mas quase
sempre prevalece. Foi o que aconteceu. O povo foi influenciado por aqueles 10 líderes
incrédulos e as consequências foram terríveis. Naquele mesmo dia, os dez espias
foram mortos pelo Senhor, e o povo foi condenado a andar errante pelo deserto
durante 38 anos (pois 2 anos já haviam passado) (Nm.14).
Josué e Calebe também tiveram que passar todos
aqueles anos no deserto, mesmo sem merecimento, pois Deus tinha um plano para
toda a nação e não apenas para dois indivíduos. Muitas coisas podem acontecer
em nossas vidas sem que mereçamos, mas por uma necessidade, por um propósito
superior.
Havia uma palavra de Deus para aquele povo, mas
a palavra humana prevaleceu naquele momento. Embora houvesse uma predestinação
nacional, o livre-arbítrio determinou a situação individual. Aqueles que
disseram que não poderiam conquistar a terra não a conquistaram. Os que
declararam que poderiam, tomaram posse da terra muito tempo depois. Entretanto,
a palavra maligna que os pais disseram a respeito dos filhos não se concretizou
(Nm.14.3). Vemos, portanto, que as palavras têm poder, mas existe um limite para
isso. Deus abençoou as crianças e os jovens que saíram do Egito (Nm.14.31).
Muitos deles, talvez milhares, entraram em Canaã, e não apenas Josué e Calebe,
conforme muitos afirmam (Nm.32.11-12).
Além dos já citados, entraram também aqueles que
nasceram no deserto. Deus sempre tem um plano para a nova geração, de modo que
os nossos filhos possam fazer e conquistar muito mais do que nós.
Depois de 38 anos, Josué e Calebe tiveram a
oportunidade de comprovarem, na prática, sua fé e suas palavras. Chegou o dia
de enfrentarem o novo desafio: os gigantes de Canaã. Conforme os registros do
livro de Josué, o povo de Deus venceu os cananeus e tomou posse da Terra Santa.
Aquela história deve servir como estímulo aos
filhos de Deus hoje. Não podemos passar a vida espiando. Não seja um eterno
namorado, mas prossiga para o casamento. Não seja um eterno desempregado ou
estagiário, mas consiga um emprego ou abra uma empresa ou torne-se um
profissional liberal. Não seja um eterno crente de banco, mas assuma o seu ministério.
Precisamos tomar posse de tudo o que Deus tem
para nós. É possível e necessário passar ao próximo nível. Não podemos viver no
deserto. Não fomos chamados para ser beduínos. Que o deserto seja apenas um
local de passagem, mas não a nossa morada.
Os dez espias não foram derrotados pelos
gigantes, mas por sua própria incredulidade, medo e covardia. Foram vencidos
antes do combate.
Hoje, é muito fácil criticar aqueles homens, mas
será não teríamos feito o mesmo? Precisamos enfrentar nossos gigantes. Não
podemos